Lúcio Mário
Psicólogo, psicoterapeuta e palestranteMinha História
Um breve relato da minha história profissional!
Em meados do ano de 2006, eu então com 33 anos de idade, fui acometido por um distúrbio psicológico chamado síndrome do pânico. Naquele momento, não sabia o que estava acontecendo, apenas sentia os efeitos devastadores sintomáticos ao longo dos meses tornando-se frequentes e associados a sintomas de depressão.

Naquele momento, sem compreender o que estava acontecendo, busquei ajuda profissional sem êxito, pois ao tentar chegar ao consultório do terapeuta na metade do percurso, mais uma crise acontece e fui imediatamente socorrido por pessoas que estavam numa parada de ônibus no centro do Recife, e levado para uma emergência acreditando que iria morrer de um ataque cardíaco, sintomas que fazem parte do quadro da síndrome do pânico.
Passaram-se 6 meses sem buscar nenhuma ajuda, pois não conseguia sair de casa, até o dia que uma amiga pessoal me ligou, expliquei o que estava acontecendo, ela foi até a minha residência me acompanhou até uma profissional de psicologia, ao qual, fiz tratamento psicoterapêutico, e fiquei “curado” da síndrome de pânico e dos sintomas da depressão cerca de dois anos depois.
Ao final de 2007, ainda em tratamento, resolvi ajudar pessoas de alguma forma, que estivessem passando por problemas emocionais e como tentar superar, foi então que decidi realizar um sonho de infância, que era ser psicólogo, na verdade, gostaria de ser psicólogo e médico psiquiatra, mas escolhi a Psicologia, ou a Psicologia Clínica me escolheu como costumamos falar em tom de brincadeira entre os pares.
No ano de 2008 iniciei minha formação pela Faculdade de Ciências Humanas de Olinda – FACHO, instituição que tenho muito amor, gratidão, respeito, me ofereceu as bases necessárias para trilhar esse percurso, especialmente com uma formação humana ampliada dentro dos valores éticos e humanos.
Foram 5 anos intensos, em consonância com a formação, viajei por algumas capitais do Brasil em diversos congressos da área, palestras, foi um rico aprendizado para além dos muros da academia, ampliou minha formação e me deixou muito mais conectado com o mundo contemporâneo e suas adversidades, aguçou meus olhares.
Ao término da formação em psicologia, então psicólogo, iniciei os estudos em Psicanálise, bases necessárias e fundamentais para escutar o sofrimento psíquico e suas dificuldades da vida cotidiana.
Naquela ocasião, até então, estagiando na Clínica-escola da faculdade, escutei de um adolescente de 17 anos (meu primeiro caso clínico), ao perguntar o que sentia, me revelou que sofria de desesperança, até então nunca havia escutado essa palavra, questionei em minhas reflexões solitárias como uma pessoa poderia sofrer de desesperança, e ainda, o mesmo jovem havia verbalizado o desejo de cometer suicídio.
Deste modo, das primeiras experiências ainda tateando à escuta clínica, nasceu e foi a mola propulsora para trilhar o caminho dentro da “Suicidologia”. Fui buscar conhecimento, estudar muito sobre a temática do suicídio, queria compreender o que leva as pessoas a tentarem, cometer e pensar sobre o suicídio.
Atendimento Profissional
Prevenção do suicídio
Quem é Lúcio Mário Neurodivergente – Autista e TDAH
Em meio a pandemia em 2021, após ter enfrentado diversas crises de ordem financeira, chegando a quase 100% dos atendimentos psicológicos serem cancelados, fui sucumbido por uma terrível depressão, que se arrastou por dois anos. Nesse mesmo período, comecei a sentir em meu corpo a percepção e sensações com alterações significativas, às vezes tinha a impressão que estava em outro mundo, meu humor se alterava com mudanças drásticas na minha rotina, meu olfato, se tornou extremamente sensível, meu corpo mal suportava um banho (sensação da água caindo do chuveiro batendo nas minhas costas eram como pontadas de agulhas), minha audição se tornou muito mais sensível, ao andar com chinelos tropeçava, batia sem perceber em quinas de móveis, a luz amarela passou a ser um incômodo, meu paladar (até então não gostava de doces, ficou ainda mais acentuado), se alguém da família tocasse em mim, era uma sensação terrível (dava vontade de bater).
Por outro lado, me via com o olhar fixo para o movimento dos peixes no aquário, as bolhas de sabão que faziam círculos prendiam minha atenção, as luzes piscando automaticamente fixava meu olhar (especialmente da árvore de Natal). Passei a ouvir os sons no batimento do meu coração com maior frequência, meu estômago fazendo a digestão, intestino, percepções que até então nunca havia percebido. As vezes fixava meu olhar para um ponto e entrava numa espécie de transe, ao costurar (também sou costureiro, e fiz muitas máscaras na época para ajudar com as despesas), ficava horas na máquina e o mundo ao meu redor desaparecia, não ouvia nada, e se me interrompessem surgia uma irritabilidade, e confesso que muitas vezes fui agressivo com palavras. Eu não sabia o que estava ocorrendo comigo, às vezes tinha a sensação de estar “enlouquecendo”.
Desde criança sempre fui muito inteligente, autodidata, ao longo de vários anos acumulei muitos conhecimentos práticos, desenvolvi muitas ocupações profissionais. Considerado àquele adolescente genial, o jovem adulto brilhante em seus afazerem profissionais, a criança extremamente inteligente. Desde sempre gostei de ficar sozinho, brincava muitas vezes só, sempre muito fechado em mim, meu mundo comigo sempre foi e é, confortável. Mas sempre tive uma sensação de estar sozinho no mundo, ser diferente, por mais que eu me enturmasse, era como se estivesse fora daquele grupo. Conheci dezenas pessoas bacanas, mas sempre me senti muito só. Fiz terapia por muitos anos para tentar compreender de onde vinha essa sensação se solidão que por muitas vezes dilacerava meu coração, meu SER e acompanhada com uma tristeza constante desde a infância.
Ainda em 2021, uma amiga de São Paulo que sempre me acolheu, ao relatá-la sobre o que estava passando comigo, sugeriu que buscasse um psiquiatra (ela pagava a consulta), com muita resistência busquei, que naquela ocasião me diagnosticou com Ciclotimia (um tipo de bipolaridade leve), naquele momento fez sentido, me receitou um estabilizador de humor que melhorei dos sintomas, e abandonei em seguida o tratamento. (Jamais abandonem tratamento, antes de falarem com seus psiquiatras, é perigoso, foi para mim!). Esse foi um diagnostico “equivocado” para o que sentia na época (não culpo o profissional, a falta de conhecimento ainda é muito grande sobre esse assunto).
No início de 2022, essa mesma amiga, acompanhando minha situação, dona de uma rede de clínicas, e meu CRP é de São Paulo, até então praticamente todos os atendimentos estavam on-line, me convidou para que eu fizesse um teste, atender remotamente alguns pacientes da sua clínica, eu já estava bem melhor. Comecei a tender, veio então o meu primeiro paciente autista adulto (está comigo até os dias atuais). Uma pessoa incrível, até então, nunca havia atendido um adulto autista, comecei a buscar informações, conhecimento, livros sobre o assunto. Já havia atendido em São Paulo crianças, e quanto mais eu lia sobre, estudava, algo dentro de mim se mobilizava e me deixava desconsertado, angustiado, passava mal, eram sensações estranhas e ao mesmo tempo parecidas, me identificava com os relatos das dificuldades que o paciente descrevia.
Foi então que comprei um livro digital chamado: “Se descobrindo Asperger”, lembro que estava no instituto na época na hora de um intervalo, cada vez que eu lia os relatos do autor, as lágrimas caiam como uma cascata, soluçava como uma criança desamparada, poucas vezes na vida me senti tão desamparado como naquele dia. Ao final cai no chão de joelhos desesperado e praticamente sussurrando, e disse para mim mesmo: Eu sou autista (para mim tomado de medo, até aterrorizado com a constatação). Enxuguei as lágrimas, corri desesperadamente em busca de uma amiga, falei o que ocorrera, ela me falou: você não é autista, isso não é autismo, deve ser outra coisa trabalhei muitos anos com crianças autistas numa instituição. As pessoas têm muitas dificuldades em compreender o TEA – Transtorno do Espectro Autista, limitam a um só tipo, desconhecem que é um espectro.

A invalidação que ouvimos diariamente por desconhecimento, e causa um enorme sofrimento, passamos até duvidar de nós mesmos, construímos uma identidade camuflada desejando se encaixar num mundo que não oferece conforto em diversos âmbitos, emocionais, profissionais, acadêmicos, sociais, sensoriais, de uma incompreensão enorme, exclusão passamos praticamente diariamente, quando não é fisicamente, são nos olhares das pessoas.
Até hoje para as pessoas quando relato que sou autista não acreditam, e se falo que sou Nível 2, não acreditam mesmo, mas eu sou de Altas Habilidades e Superdotação (AH/SD, nem gosto desse rótulo, me causou muito sofrimento), cujo camufla muitas características, mas só eu sei no meu silêncio diário sobre ser autista nesse mundo, o que passo diariamente para continuar nessa trajetória da vida. Como diz uma grande amiga autista Gabriela Neuber: “É negociar diariamente com a vida”.
Ainda em 2022, passei por uma avaliação psicodiagnóstica, ao qual saiu o diagnóstico de Autismo Nível 1 de Suporte, confesso que entrei em negação durante 3 meses, pensei em desistir da Psicologia e resgatar uma outra atividade profissional que tenho, pedi para refazer e confirmou o diagnóstico. No dia 03/01/2023 o psiquiatra fechou. Fui conhecendo aos poucos como é ser autista, um mundo novo e antigo começara a se fazer presente, até os dias atuais ainda aprendo muito como se expressa em mim, tive diversas crises neste mesmo ano, e outra avaliação com uma outra psiquiatra, constatou que meu funcionamento está no nível 2 de Suporte, o que dar conta de muitas dificuldades com muito esforço é a AH/SD, ao qual, ajudou a desenvolver muitas habilidades compensatórias.
No ano de 2024, precisei trocar de psiquiatra, para um presencial, por estar tendo constantemente muitas crises, e com medo de ter que parar meu trabalho e desenvolver um burnout autístico, veio em maio o diagnóstico de TDAH com intensidade de moderada a grave, onde estava afetando nas minhas atividades cotidianas e estamos tentando controlá-lo com ajuda de medicação, psicoterapia e desenvolvimento de habilidades.
Hoje atendo diversos pacientes autistas e com TDAH, em processo de psicoterapia e psicodiagnóstico, adolescentes, adultos de forma remota e presencial em Recife.
Talvez sendo autista (não estou dizendo que profissionais que não sejam, não tenha capacidade, temos excelentes no Brasil, sensíveis e estudiosos), me deixa um pouco próximo para compreensão maior das grandes dificuldades e desafios que enfrentamos no dia a dia, que nos causam extremos sofrimentos, desregulações, sensoriais, sociais, cognitivas, emocionais. Só NÓS autistas sabemos o que enfrentamos cotidianamente, e necessitamos com urgência sempre, NOS ACOLHER.
Em que posso te ajudar?
Desde o início da formação em psicologia em 2008, tenho estudado muito sobre depressão, bipolaridade e outros transtornos psiquiátricos e emocionais, participando de minicursos, palestras, congressos, simpósios.
– Lúcio Mário
O Que Acredito
Acredito que a formação de um profissional não se fecha na faculdade, é continuada, necessita de muitos investimentos, afetivos e técnicos. É nesse espaço de diálogo e reflexões do fazer psicológico, proporcionam estudos e atualizam o conhecimento profissional e assim prestamos serviços a sociedade com qualidade e ética.
Ampliar horizontes sobre o conhecimento, sempre foi e é meu principal objetivo, desenvolver ideias, com criatividade, entusiasmo, acolhimento, sem perder o lugar no consultório que é minha maior inspiração. Desde o início as atividades nas clínicas, aos quais passei, foram mais de 8 mil horas de atendimentos, em Recife e São Paulo até 2017.
Neste universo de acolhimento e cuidado com o outro, desenvolvi eventos, sobre prevenção ao suicídio, psicologia clínica, ministrando palestras, minicursos, cursos breves. Com uma amiga e então na época sócia, fundamos o Instituto Pernambucano de Práticas Psicológicas e Educacionais – IPPEP em 2016, onde tivemos uma equipe de profissionais de diversas áreas da saúde acolhendo o ser humano, que por força maior veio a fechar e encerrar suas atividades em 2022.
Sou um estudioso inquieto dos recôncavos da psiquê e do cuidado com o outro, tenho como missão: Acolher as pessoas dentro das suas singularidades, respeitando cada ser humano na sua forma existencial. Proporcionar através do meu trabalho, desenvolvimento emocional, pessoal e autoconhecimento, e assim, encontrar junto com cada um, instrumentos para se libertarem das amarras e entraves que os paralisam, seguir na vida de forma satisfatória.

A partir deste breve relato desde o início da formação até os dias atuais, tenho ainda muito que aprender e me desenvolver como profissional, o estudo é uma ferramenta permanente, sou um assíduo sobre emoções, comportamentos humanos, procurando ampliar meus conhecimentos, e assim poder oferecer um trabalho acolhedor e empático, respeitando sempre a ética profissional.
E então, como eu posso te ajudar?